quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O Cão Virgem

Três senhoras de muita idade e um cachorro de pouco estilo se aturavam numa simpática casa de uma cidade do interior.

De verdade mesmo só Deus unia as três. A falta de sexo unia os quatro.

O que mais sofria era o cachorro, que vivia correndo atrás de seu rabo, masturbava-se com vassouras (dizem que a preferida dele era uma vassoura de pelos) e olhava esquisito para os gatos. Não era um cachorro sem preconceitos, mas sim totalmente necessitado.

Desde filhote preso a uma corrente, sua liberdade media três metros, num quintal de quarenta. Comida boa, sem sal, moradia, banho, remédio contra pulgas, sindicalizado, devoto de São Francisco de Assis e que gostava de ouvir Pop animal... mas que vivia só, como suas donas, que cultivavam flores para colocarem nos próprios túmulos.

Sua chance de morrer virgem crescia à medida que o tempo passava e o povo não morria. O instinto lhe lembrava isto todo dia. Foi ficando louco. Já não podia ver uma perna que já saia fornicando. Ah! filho bastardo da mãe Natureza.

O tempo passou. Os pêlos envelheceram. Passou a babar sobre as formigas, que riam de sua castidade domesticada. Depois de 12 anos, um último insight: sábado, pela manhã; o dia do sagrado banho. O portão aberto, longe, mas lá, lhe chamando. A chance de sua vida. Um segundo de descuido da Dona e lá foi ele, pedindo passagem para o vento fresco, vencendo o peso da idade, pois ali estava nascendo um macho. No meio das patas a espada que seria encravada na tão esperada foda prometida, qualquer que fosse.

Estava fora, assustado e feliz. Sumiu pela rua. Foi atropelado na esquina. Cachorro de pouca fé.

- Sultão, gritou desesperada a Dona.

Fundindo-se ao asfalto, o cachorro reconheceu-a. Seus olhos, antes de se lacrarem, negaram-na, como se dissesse:

- Sultão é a Puta que te Pariu.