quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amigo Cigarro

Parei de fumar há 16 dias. Fumei 14 anos: quase metade da minha existência. Na verdade é metade mesmo. Fiz um calculo horrível que muito contribuiu com a minha decisão de parar com esse hábito: Considerando-se que fumei meio maço de cigarros por dia calculei: 10 cigarros, vezes 30 dias, vezes 12 meses vezes 14 anos = mais de 50 mil Cigarros. Estarrecedor.

Contei para meu amigo Léo sobre isso no semana passada. Ele friamente escutou a quantidade de cigarros que durante estes anos todos deixaram meu pulmão com cor de coca-cola sem gás e friamente me respondeu: – e quanto isso dá em grana, maluco?

Esta é a resposta típica dele para basicamente qualquer coisa: “quanto isso dá em grana, maluco?”

Eu: Vamos no show do Mudhoney?
Léo: quanto isso dá em grana, maluco?

Eu: Acredito que a casa da minha avó vai valorizar muito com o aquecimento global:a água vai subir, vai ficar mais perto da praia.
Léo: quanto isso dá em grana, maluco?

Eu: Ganhei o prêmio Pulitzer de Poesia...
Léo: quanto isso dá em grana, maluco?

Não sei, não sei, respondi. Mas dá bastante...

A mulher dele ficou grávida e ao me contar, a primeira coisa que ele me disse foi: Minha mulher ta grávida. Ter filho é foda. Tem que pagar escola, remédio, frauda, brinquedo, vacina, e aquelas papinhas que vem no potinho de vidro, você jê já viu quanto custa aquilo?... Muita grana cara...

Maldita indústria tabagista e sua máquina de propaganda imperialista que faz com que os meninos virarem homens ao dar as primeiras baforadas do tubo nicotinoso com dispositivo filtrante que tem uma brasa numa ponta e um idiota na outra. É um rito mundial.

Como qualquer criança saudável e normal também passei mais ou menos 11 anos ininterruptos da minha vida na frente da televisão, parando apenas para comer Mandiopã e jogar bolas de papel higiênico molhado pela janela nas pessoas. (O termo técnico é “Porrolho” do latim Porrullum Nalatum do Transeuntum)

Não sei se era pior o show da Xuxa ou campanhas de álcool ou cigarros. As de cigarros as mulheres eram bem mais bonitas. Me faziam ter vontade de ser mais velho, sair na balada, voar de ultra leve e espiar pela janela do vestiário das meninas para ver a garota do sutiã pelada depois da educação física. Mas acho que essa propaganda não era de Cigarro. Era de bebida. Mas eu gostava mesmo assim.

Lembro muito bem das campanhas de cigarro. Acho que o lance do cowboy que ete faz fumar é tudo mentira. Eu não queria ser cowboy, não sei nem andar à cavalo, usar o laço. Não neva nas fazendas que eu fui e eu nunca celebrei a captura de um pônei-selvagem-fugitivo tomando café feito no fogo da fogueira de manhã. E aonde diabos fica o mundo de Marlboro? Barretos? Na Estância Alto da Serra?

Comecei a fumar aos 14 anos pelo mesmo motivo que leva todos os moleques a fumar; um termo técnico que os especialistas em comportamento jovem chamam de “idiotice”.
Na época, se você me dissesse que fumar causava rugas na pele, pigarro e envelhecimento precoce eu diria: Legal cara!! Vou ficar igual ao Angeli!! Lia muito Chiclete com Banana na época. Foi uma progressãol lógica natural: Cebolinha, Asterix, Chiclete com Banana, Guido Crepaux e Circus. Daí quando finalmente completei 10 anos passei a comprar o gibi Batman.

Então eu acho mesmo que esse papo de usar o cowboy para fazer a molecada fumar é papinho. As mulheres que eu fui afim quando tinha 12 anos me fizeram fumar muito mais. Talvez por que tivessem em média 18 anos e eu queria (e precisava ) parecer mais velho já que os meus 1,66M de altura nunca contribuíram para isso. As vezes me sentia como que acompanhado pela Jessica Rabbit – esposa intrigante do coelho Roger Rabbit. Aquela coisa de soltar a fumaça em formato de coração foi quase verdade para mim.

Tenho tentado mascar chicletes de nicotina, cravar uma unha debaixo da outra unha (receita do Paulo Coelho – não funciona) trabalhar sentado no jornal (vide bibliografia científica - “Simpatias que Curam”) Nicotisol e aquele sprayzinho da Amazônia que vende pela televisão e agora o Viagra do anti-tabagista da Pfzeizer e acupuntura. Não funciona.

Vou continuar com o meu projeto de para de fumar. Tenho certeza que terei uma série de benefícios incríveis. Para começar o hálito, depois as roupas, depois a felicidade intensa que inundará meu coração de não ficar mais puto toda vez que percebo que perdi de novo meu isqueiro. (perdi ou ficou com você?) além disso vou economizar saúde e grana. Saúde é mais importante.

Na verdade o cálculo da grana mudou pois estou a dois anos fumando de novo... Menos, mas estou. Vai rolar parar. Estou pensando na vantagem da saúde desta vez. Tenho me sentido melhor.

Mas na Duvida do benefício maior, qualquer coisa eu peço para o Léo fazer o cálculo de quanto isso dá em grana. Ele vai saber.

Um comentário:

Ana Fernanda disse...

eu poderia escrever um texto similar, chamado "meu amigo, o café".
Não é a mesma coisa, mas café me dá enxaqueca, e haja tratamento e neosaldina. Quanto isso dá em grana, maluco? Não sei, vou perguntar ao seu amigo.
de qualquer forma, boa sorte!