
Nem Bentinho, nem Escobar. Vou tentar a vida em outro lugar. Chega de Rio de Janeiro e de corpos ao sol. Me disseram que com meus olhos de ressaca, de cigana obl
íqua, posso ter uma bela vida em Amsterdam. Olhos esses, segundo muitos, capazes de arrastar quem quer que seja pelos muitos canais da Veneza do norte - é assim que a chamam. S
ó que ao invés de Tinto Br
ás, do sexo alegre, safado, espont
âneo e exibido, - sim porque Tinto Br
ás, Veneza e Rio de Janeiro s
ão todos muito exibidos e explicitamente safados - vou é vagar pelos Pa
íses Baixos como gata sem dono, que se move acariciando as ruas. Vou miar para lua, fingir de carente, ronronar docemente e envolver a v
ítima no meu pêlo branco e macio. Depois de saciada, ao final, com esses olhos de cigana obl
íqua, olharei a presa como se jamais a tivesse visto, com uma indiferença de morte que me far
á ainda mais irressist
ível e cruel. Lamberei minhas patas e seguirei
à procura de um recanto onde me espreguiçar e dormir, sob eventuais raios de sol. Assim viverei. Serei uma gata vagabunda, sem teto e sem almofada. Mas beberei leite fresco todas as madrugadas, sem ninguem ver.
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