sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Indian Kincat
segunda-feira, 27 de abril de 2009
O adubo dos jardins do Paraíso
as preces que vagam
pelos jardins do paraíso.
São notadas apenas
Pelos anjos da guarda
Que avisa-as
para não pisarem na grama.
De tanto esperar
Elas caducam
E viram adubo para
Cultivar as saudades.
Por isto, peço a Deus apenas coragem.
domingo, 12 de abril de 2009
quarta-feira, 1 de abril de 2009
quinta-feira, 26 de março de 2009
O Twitter é Saturnália
Algumas pérolas do ENEM
"Onde nasce o sol é o nacente, onde desce é o decente".
"A devassa da Inconfidência Mineira foi Marília de Dirceu, a amante de Tiradentes".
"As estrelas servem para esclarecer a noite e não existem estrelas de dia porque o calor do sol queimaria elas".
"O nervo ótico transmite idéias luminosas para o cérebro". (classificação: poesia)
"Os egipícios dezenvolveram a arte das múmias para os mortos poderem viver mais".
"Ateísmo é uma religião anônima praticada escondido. Na época de Nero, os romanos ateus reuniam-se para rezar nas catatumbas cristãs".
"A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva". (ótimo esse)
"A prinssipal função da raiz é se enterrar no chão".
"Os pagãos não gostavam quando Deus pregava suas dotrinas e tiveram a idéia de eliminá-lo da face do céu". (hein?)
"No começo Vila Velha era muito atrazada mas com o tempo foi se sifilizando". (na época em que chegaram as prostitutas)
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Alfie, pai aos 13!
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
O Fantástico Mundo dos Dentistas
Mas diante das maravilhas das anestesias e doppings gerais.... descobri que no mundo moderno você não sente quase nada. Só ouve vozes e quando está fora daquele local desgraçado depois de 2h boquiaberto, percebe que um lado da sua face está 17 vezes maior que o normal.
Algum tempo depois cái a ficha que não comerás ou beberás por muito tempo. Futebol? zero. Sexo? zero. (porque fui inventar isso? preferia ficar sem osso).
O tempo passou, a barba cresceu e alguns quilos se foram. Dia desses, quando eu ainda estava em recuperação, com pontos na boca (falando somente em idioma alieníngena ou chinês mal falado e sem poder rir ou chorar sem sentir dor) minha digníssima namorada me mostrou o vídeo abaixo. Não sei se pela minha situação de vida naquele momento, ou se por muitos dias de risadas contidas, eu não conseguia parar de rir vendo o vídeo. O pior... os pontos puxando. Não deu nem pra passar do primeiro minuto. Agora que tirei os pontos assisti novamente e continuei achando engraçado... porém chateado, pois meu dopping não chegou nem a 0.0001% do pequeno David aí. Que viagem!
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Obamizin Bush
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
O Penhor dos Anéis: a Sociedade do Cartão de Crédito
E foi justamente assim, numa época crítica, real e não muito distante, que recebi uma carta de meu banco, felicitando-me por estar recebendo um cartão de crédito, livre da 1ª anuidade. Quanta bondade. Acho que eles queriam que eu me sentisse honrado com aquele pedaço de plástico. Sei lá. Ao contrário, fiquei irritado por estar recebendo algo que não havia pedido. Nunca iria usar um cartão de crédito.
Pois bem... como o cartão só funcionava depois de desbloqueado por meio de uma linha 0800, não dei muita importância ao dito cujo e coloquei-o para dormir ao lado de uma nota de Cz$ 50.00 que tinha guardado como lembrança do tempo do Plano Cruzado.
Mas a vida... eita vida... sempre prepara aquelas surpresinhas, que lhe fazem lembrar de nunca dizer a palavra nunca.
No final do mesmo mês, acabou faltando, invariavelmente, dinheiro para completar o pagamento do aluguel de meu apartamento. Eu, que sempre emprestava de um amigo ou de minhas irmãs para remediar a situação até a chegada do salário, acabei tendo um revés, e, faltando dois dias para o vencimento da conta, não tinha boa alma que me emprestasse dinheiro.
Comecei a tremer só de pensar em pagar uma multa de 30% pelo atraso. E o efeito multiplicador deste gasto extraordinário seria devastador, seco e escuro (ia, com certeza atingir até a conta de luz e água).
Isto deixou-me mal. Passei o dia tenso. À noite, quando cheguei em casa, minha preocupação logo preencheu os 50 m2 do apartamento. Por onde eu olhava, via pontos de interrogação. Estava amargurado. De repente, da penumbra da cozinha ouvi uma voz:
- Olá, como estás? Tudo bem?
Pausa.
Assustado, fui ver quem era.
Era o cartão de crédito que estava sentado na minha pia, encostado na parede e apoiado em um dos pontos de interrogação. Pelo jeito, estava esperando-me ansioso pra conversar. Sem cerimônia, o cartão apresentou-se como sendo Lisa Maria Card, minha criada. Com uma voz sensual e sedutora, olhou em meus grandes olhos e começou a falar-me sobre a vida, a dignidade, o orgulho, o respeito, sobre arroz, feijão e salaminho, que queria me ajudar, que seria uma boa e fiel companheira, na saúde e talvez na doença (dependia do plano médico). Era pra isso que ela estava ali.
Não falei uma palavra. Estava pasmo.
Mal conhecia a cidadã e ela querendo me dar conselhos e entrar na minha vida pela porta da frente. Quem deu as chaves para essa vagabunda oportunista? E incrível... tinha uma cara de vagabunda.
Hummmm. Como pode. Fui quebrar aquele cartão de crédito folgado ou melhor, ia queimá-lo para nem virar reciclado, quando fixei os olhos no holograma que havia impresso em sua lateral... nele, um pássaro colorido muito doido começou a bater asas, e os caracteres dourados, contendo um monte de números e meu nome em alto relevo, misturaram-se e formaram as palavras UMA CHANCE MEU AMOR e o telefone para o desbloqueio.
Senti uma pontada no peito, como a muito não sentia.
Eu, “limpo” de dívidas, mas buscando apagar o fogo que estava atingindo a gaiola dos meus beija-flores (minha carteira com 3 notas de R$ 1.00), estava ali passando por uma putz tentação, a mesma que me fez congestionar o tráfego aéreo de Curitiba com meus cheques voadores há dez anos e quebrou metade de minha família (que me fez jurar ao pé da santa que eu não me meteria mais em problemas financeiros).
- Que tal? isse ela no final, tentando constranger-me.
Para não pirar, fui dormir.
Sonhei que estava chutando a santa e acordei embriagado pela voz de Lisa em meus ouvidos. A danada estava dormindo ao meu lado, embrulhada num folheto da Bergerson Joalheiros.
Fui trabalhar preocupado com meu coma financeiro, que estouraria no outro dia.
No fim do dia, na volta para casa e encontrei Lisa esperando-me no sofá, de pernas abertas. Não agüentei e acabei cedendo. Aceitei imprudentemente a sua proposta de união, com anel e tudo. Liguei para o tutor de Lisa, um banco multinacional, pedindo a mão de Lisa em casamento. A atendente e madrinha Maria Silvia do 0800 deu o OK. Em poucos minutos estava casado. Assumi o compromisso (teve até gravação da cerimônia). A festa e a ligação foi bancada pelo tutor da noiva. Maria Silvia pelo jeito ficou tão feliz que me deu de presente de casamento um limite de crédito muito acima do que eu esperava.
Dormi o sono dos preocupados. Acordei, tomei um café com Lisa e segui para o banco logo pela manhã. Cheguei com um sentimento estranho. Mas naquele momento, não tinha muito o que pensar. Era aproveitar a lua de mel e se beneficiar daquela união.
Entrei numa central de caixas eletrônicos, oito de um lado e oito de outro. Todos estavam lá com as calças arriadas, como que esperando para desvirginar minha esposa antes que eu. Desconfiado, escolhi aquele que devolvesse notas de R$ 1 e R$ 5 (talvez doesse menos). Coloquei meu cartão. O escroto engoliu, cuspiu e engoliu de novo. Uma mensagem aparece na tela: Estamos em contato com nosso computador central. Aguarde. (para ver se ela é virgem mesmo). Apareceu as opções e cliquei em retirada (do hímen). Informei a intensidade da operação: 50.00. Ouvi um grito de Lisa e logo após um barulho de dentro da máquina: o animal gozou 8 notas de R$ 5 e 10 notas de R$ 1. E ainda me deu o comprovante de desvirginamento. Só espero que meu querido cartão, Lisa, não tenha gostado, pensei.
Em pouco tempo já tinha virado uma puta. É pior que cheque. É muito fácil gastar. Lisa começou a administrar minha vida. Passei a andar com dinheiro no bolso. Os beija-flores de minha carteira agora tinham a companhia de araras e do mico-leão. Apareceu até uma onça pintada. Estava, na verdade, com o zoológico inteiro na carteira. Senti-me o Tarzan da Capital Modelo. Cheguei até a emprestar algum para minhas irmãs.
Fez sol e Lisa comprou-me uma bicicleta. Fez chuva e Lisa presenteou-me com uma capa e um guarda-chuva. Tudo era motivo para comprar. Em pouco tempo eu estava apaixonado por Lisa. Lisa era linda e me dava segurança e poder.
Reuni minha família para um almoço numa excelente churrascaria da cidade, para comemorar a união. Minha mãe não quis ir.
- Vamos comer bem. Nada de três carnes sangrando como das últimas vezes, falei.
Ninguém questionou nada. Creio que estava surdo de paixão. (ouvi um “ãh” de um sobrinho, mas naquela hora estava desconsiderando a opinião de crianças e idosos). Eram eu e mais 8 pessoas, parentes e até cunhados. Senti-me bem. Fiz questão que todo mundo comesse picanha e mousse de maracujá na sobremesa (um assalto a mão armada). Tinham que comer.
Ao chamar o garçom pedindo a conta, percebi que escrevi no ar: “estou fudido”. Passou mais uma vez o meu cartão pela máquina e reconheci a dívida com uma caneta invocada que Lisa me deu. A última conta, pensei. Já era hora desta festa do todo mundo nú acabar.
Saí do restaurante e quase fui ao shopping (só estava entrando lá para ir no banheiro ultimamente), mas aí era demais. Tinha voltado a sanidade. Não estava comprando fiado, cacete. Isto vai pesar no futuro. É. Vou me controlar e escutar mais o meu lado racional. E Lisa comprou-me um aparelho de som.
Na primeira fatura, veio o ônus. Fiquei assustado. Fiquei sabendo que tinha vários sócios na relação com Lisa, um tal de Mora, um outro chamado de Rotativo.. todos gordos gigolôs, com a conivência de seu tutor... Caiu a ficha: Lisa, era a vadia desta história de paixão e eu um cornoCard. Não aceitei a situação. Lisa logo me abandonou. Coração de mãe não se engana.
Liguei para Maria Silvia e ela me aconselhou a procurar um advogado. Desesperado, penhorei a aliança de casamento. Só deu para pagar as custas processuais. Aceitei, enfim, um acordo: pagaria uma pensão de R$ 250.00 por seis meses para Lisa.
Maria Silvia ligou-me. Pediu paciência.
- Isto é uma fase que acontece em todos os relacionamentos. Dê um tempo a Lisa. Tudo vai passar. Procure ela daqui a 6 meses. Quem sabe?
De pronto cantei para ela:
- Maria Silvia, piranha...
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Quarta-Feira "Explosiva"
Foto meramente ilustrativa. haha!
Às vezes quando chego em casa depois de um dia longo de trabalho da uma coceirinha no pé de vontade de sair nem que seja uma escapadinha em pleno meio da semana, para tomar uma cervejinha tranqüilo e conversar com os amigos e logo lembrar que o dia seguinte é “dia de branco” e zarpar antes da meia-noite pra ir repousar, mas nem sempre eu consigo ter controle sob mim e digamos acabo passando um pouco.
Uma semana antes dessa quarta-feira, eu marquei com umas amigas de irmos a uma casa de shows que na quarta-feira oferece Double Drink ( você paga uma bebida e vem outra grátis), show com a banda Relespública + Anacrônica, era a melhor opção de diversão barata e tranqüila que eu podia me reservar no fim do mês, quando sobra dia e falta dinheiro.
Tudo bem marcado “Vamos lá!”.
Eis que chegou o tão esperado dia, impressionantemente foi a quarta-feira mais suada do ano, trabalhei feito um camelo e durante o expediente fui lembrando do que tinha marcado pra aquela noite. Quando cheguei em casa estava cansado, estressado e com uma dor de cabeça irritante, então decidi não sair e deitei na cama, porém algo no meu subconsciente gritava que aquele dia ia ser fera, pois a uns 2 meses atrás tinha conhecido dois brotos lá nesse bar e uma delas era muito atraente e bonita do tipo que eu sonhava encontrar, lembrei que trocamos telefone e tal, lembrei também dela dizendo que ia todas as quartas pois folgava no hospital na quinta, ai passou um “vento” e decidi - Que se dane o cansaço e tudo mais, vamos lá cara, hoje é o seu dia! – me vesti, coloquei minha roupa nova, passei um perfume, liguei pra Joana uma das minhas amigas, confirmei que ia mesmo e fui. (Faltei aula nessa noite!)
Cheguei ao lugar aonde íamos se encontrar e nada da Joana chegar, então como de costume entrei num bar e pedi meu “combo alcoólico” - uma cerveja e um vermute com pinga, por favor- foi um combo, dois, três daí resolvi ligar para ela, putz me surpreendi ela estava no bar do lado, ai comecei a pensar – Hoje não é um bom dia pra sair, olha o caos! – ela chegou com uma amiga muito, mas muito bonita, de uns 18 anos, mas com os seios saltando pelas beiradas, uma saia curta, um rostinho lindo e uma cintura esculpida, quase tive uma parada cardíaca naquela hora!
No caminho a pé para casa de shows, fui já pensando em investir na deusa loirinha também, algo tinha que render naquela noite e depois que a vi parecia que as coisas estavam mais ao meu favor, fiquei animado!
Cheguei no bar e dei de cara com a outra moça que já comentei com vocês, a enfermeira, que quando me viu já correu me abraçar e me ofereceu um drink, uma caipirinha de ypioca bem forte, das que gosto, começamos a conversar ali no balcão então ela convidou pra irmos dançar, quando cheguei perto do palco ela me apresentou suas amigas, nossa eram oito amigas, meu deus eu não sabia se estava num Harem ou num salão de beleza, nunca tinha visto tanta mulher ao meu redor e o mais incrível cada uma com uma caipira e uma cerveja na mão, ah que sonho, tocava em minha cabeça “Come on baby, light my fire”!
Comecei a dançar com a enfermeira, ela me agarrava, eu puxava ela de um lado para o outro, mordia a orelha dela, nossa perfeito e dali uns minutos já estava dançando com as oito, coladinho e tal, fazendo tremzinho, ataque do Daniel San e as coreografias mais loucas possíveis, parecia que as conhecia há uns dez anos e a cada minuto elas buscavam mais bebidas e me ofereciam – Vai bebe, experimenta, é whisky com Red Bull, Caipira de Malibu, Caipira de Vodka, Ypioca com gelo, Cerveja! – e fui bebendo, tava tudo tão bonito, atraente e gostoso que todas elas começaram a ficar interessantes, fui investindo, abraço aqui, mãozinha ali, ouh baby no ouvido e todas as táticas possíveis me sentindo o rei da madrugada.
Passou um tempo e lembrei - Nossa onde será que a Paola está? – ela estava com a deusa loirinha ali por perto, fui dolangar por aquela região - cobrir o território – dancei, dei algumas risadas e ganhei mais bebida, percebi que por ali não ia dar resultado algum, então voltei com o bonde dos brotos, só que nesse meio tempo todas as pequenas menos a enfermeira estavam já acompanhadas, das duas uma, ou eu pego essa ou nada, era hora de fazer valer à pena, então tentei ser meio direto com ela, ela não ouviu e virou pra trás e abraçou um cara, bom pensei – Deve ser um amigo dela né! – e sei que depois que terminou o Relespublica o cara subiu no palco e começou a cantar, ops vomitar uma música do Rage Against Machine que eu odeio tanto, daí vassorei, chutei o pau da barraca e comecei a beber mais ainda, fui comprar umas cervejas voltei e fiquei curtindo ali, o cara desceu e deu um beijão nela e a garota disse pra mim:
- Ele é o vocalista daquela banda!
O cara afirmou:
- É sou o cara! Já ouviu nossas músicas?
Respondi:
- Nem imagino como são não curto fuleragem de rock com rap! Se forem rock de verdade quem saiba eu ouça!
Fico um clima ruim, às vezes a sinceridade com a raiva não dão bons resultados e naquela hora eu já estava muito, mas muito embriagado, procurando não cair, tanto que sentei no palco e bati a cabeça no joelho da vocalista que me mandou ir pros infernos. Em um curto momento sóbrio percebi que já estava passando dos limites, mas me deram mais bebida o que eu podia fazer! Nisso a Paola foi embora, pois precisava trabalhar cedo já era mais de quatro horas da manhã, a dispensei e fiquei mais um tempo por lá.
Deu 5 horas da manhã e minha consciência reclamou e fui me despedir dos brotos e peguei um taxi para casa, pois bem no estado que eu estava nem me lembro como peguei o taxi, se liguei ou peguei ali na porta do bar, mas tanto faz.
Cheguei em casa as 5 e meia deitei com a roupa suada e molhada de bebida com típico fedô de cigarro, aquele cheirinho de vida boemia, lembrei de por o despertador para às seis, pois tinha que acordar para ir trabalhar, afinal era quinta-feira ainda.
Que merda, levantei mais bêbado que antes e peguei o ônibus, sorte que só tem um ônibus que passa no ponto.
No caminho pro trabalho eu perdi a noção, dormi e quando acordei assustado não sabia se já estava voltando ou ainda indo pro trabalho, também lembro que estranhei as pessoas do ônibus com aquelas caras fechadas franzindo a testa e algumas com os dedos no nariz para evitar o meu perfume, durante o percurso fui também remoendo os pensamentos para tentar entender a situação, mas quando fechava os olhos parecia que ainda estava no bar ao redor das garotas e nesses flashes eu sempre conseguia beijá-las...
Perdi o ponto, desci dois pontos depois!
Cheguei ao café da manhã da empresa atrasado pra variar, lá estavam presentes todos os chefões que gozavam de sua sobriedade, falando de trabalho e sobre a economia e sei lá mais o que, eis que chega o pinguço com o perfume boêmio - bafo de onça, cabelos duros, corpo suado e roupas sujas ( eu caí no bar e por aí) - apreciando a situação o chefe supremo pergunta:
- Tudo bem com você meu camarada? Perguntou acho que meio suspeitando do meu gingado.
Daí todos viraram a atenção pra mim e pensei – Vou falar algo engraçado pra descontrair, mas que seja educado! Então soltei:
- Você é muito bacanão! E dei um sorriso alcoólico e ao mesmo tempo cínico e safado, pois pra mim eu ainda estava com um pé no bar e tudo aquilo não fazia sentido, me desprendi da realidade agora num mundo paralelo rodeado de garotas e drinks.
Veio o silêncio, sentei, fiquei ali calado pra não soltar mais alguma, o silêncio alastrava o caos...
Terminei o café e fui trabalhar na frente do computador e não via o mouse direito, tava um caos, fui forte e me agüentei até o almoço porque sabia que comer podia dar um Power a mais na minha reabilitação, ajudar também na azia e quem sabe parasse de “suar frio” e depois podia dar uma dormidinha básica.
A vida não é como a gente quer, terminei o almoço e tive de voltar ao trabalho, mas o sono me matava, então pensei – Poxa eu vou ao banheiro fazer uma horinha, lá ninguém pode reclamar de eu demorar e levo o telefone sem fio da minha sala, qualquer coisa atendo lá! – então coloquei o mp3 no ouvido, saquei o telefone e fui pro banheiro, estava ouvindo um rock bem pesado pra controlar o sono, abri a porta do banheiro e analisei possibilidades de descanso que o banheiro poderia me oferecer – Privada ou chão? O chão de banheiro é muito nojento se bem que a privada é também – ah vou só me sentar nesse cantinho aqui do banheiro que não da nada e é só por uma meia horinha mesmo.
As músicas foram passando e passando e o sono chegando, fui deslizando-me no banheiro e acabou o rock pesado e começou nada mais nada menos que o disco mais fossa/psicodélico/away do The Doors – An American Prayer, não tive como me agüentar, agora deslizava sobre sabão envolto a uma bola de gel, paraíso, terra prometida e tudo de mais divino que exista ali estava naquele chão de banheiro sujo e pentelhoso o qual eu tinha encontrado o conforto tão sonhado das últimas horas, cai em sono profundo e recuperador ouvindo o Jim Morinson dizer “Entre nesse sonho quente e venha com nós, nessa floresta, siga em frente, casais pelados dançando, deixe a música envolver-te [...]”, tudo que o tal rei da madrugada devia ouvir caído no banheiro.
Lembro que depois de meia hora mais o menos o Jim perguntou: “Todos seus amigos estão aqui? Posso conhecê-los? Ouh impossível concentração!” eu respondi as perguntas da música e continuei dormindo, até ouvir uns barulhos que eu não sabia da onde, alguns grunhidos e batidas, acordei assustado sem entender nada, recuperei um pouco minha mente e pensei – Que diabos estou fazendo deitado no chão de um banheiro? Putz não é o banheiro do serviço? – que merda... Levantei, tirei os rastros “pentelhosos” das costas, lavei o rosto e voltei ao trabalho, assim que cheguei à minha sala meu colega de trabalho comentou: “Nossa que demora! Tava muito caos lá no banheiro?”, eu dei uma risada sonsa e resolvi dessa vez não falar mais nada até a hora de ir embora, sumir dali.
Fui pra aula ainda naquela quinta-feira, dormi na aula e passei mal, voltei pra casa agora com os sintomas de ressaca em estado critico, no outro dia vieram algumas dores no joelho, lembrei que tinha torcido dançando, dores essas que acabaram com o sonho de viajar para a praia no fim do ano.
Não sei se existe alguma moral da historia (porque na historia não tem mesmo) ou coisa do tipo, mas de uma coisa eu sei, não tentem serem os Reis da Madrugada em plena quarta-feira ou talvez terminem em um chão pentelhoso e sujo de banheiro sentindo-se a própria merda.
domingo, 11 de janeiro de 2009
Paulo Leminsky
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular como um paradigma da primeira conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Passatempo assassino, não em 2009!
Nesses dias de curtas férias estava no bar conversando com um amigo aficionado por Computadores, Celulares, Palmtops, “Mp 9s”, Internet... Era ele o único amigo que restou, afinal nessa época só ficam em casa os pobres (meu caso), nerds e velhos. Se bem que, quem sabe, até os velhos não fiquem e vão para as suas excursões.
Já havia um tempo que não o via e é sempre bacana encontrar velhos amigos, conversa vai e conversa vem, sei que em menos de dois minutos de papo ele mudou o assunto sobre mulheres, Rock N´ Roll (coisas da idade) e começou a falar das boas novas do RPG que ele joga online, diariamente e “noitemente”. Tanta dedicação ao RPG já rendeu-lhe repetências na escola, brigas com a ex-namorada e nesse meio tempo chegou até ser despejado pelo pai, mas tudo isso não o fez parar e agora sem mulher e sem amigos ou fronteiras, ele lutou e conquistou o tão almejado lugar, está entre os melhores do Brasil e no 489º lugar no ranking mundial.
Eu sinceramente não entendi nada, mas pra valer a amizade fiquei ali alguns
No outro dia acordei tarde como de costume e não havia nada pra fazer, então planejei ficar na frente do computador uns 30 minutos para ver meus recados no Orkut, verificar meu Gmail, bisbilhotar os acessos do meu blog pelo Google Analytics, ver os eventos no Last Fm, assistir alguns vídeos do Youtube, fazer contato com os amigos pelo MSN, quando me dei conta já era tarde, noite, tinham passadas 6 horas em 30 minutos.
Ontem comecei a pensar me baseando numa antiga teoria que construí a tempos de que “quanto mais tempo > menos tempo”:
- Eu posso ser tanto quanto viciado ou até mais que o meu amigo, fico ali vidrado que nem vejo as horas passarem!
- Merda ano passado eu passei mais tempo na frente do computador do que vivendo, deve dar mais o menos ¼ do ano inteiro. (Trabalho + “Web-Lazer”).
- Quantas coisas de computador ocupam minha cabeça? Senhas, usuários, vídeos do Youtube , www’s, vocábulos, atalhos, configurações...Desse jeito daqui uns dias viro um sistema operacional!
Então prometi pra mim mesmo que em 2009 eu não vou “doar meu sangue” pro computador, porque reconheci que nem 10% do que eu venho fazendo é realmente útil/necessário pra mim.
Eu quero ficar velho e ter boas histórias vivenciadas pra contar pros netos e não conversas de MSN a recordações de vídeos do Youtube – 2009, eu quero viver yeah e aproveitar esse ano pra conhecer pessoalmente minha vizinha, sabe ela é super legal, a gente só se conversa pelo Orkut e MSN a mais de dois anos!
Ah uma notícia boa, meu computador queimou! Vamos festejar? Fazer uma excursão?
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Charlie Brown Christmas - Performed by the Cast of Scrubs
Enjoy it!
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
o sequestro do trema
Qüiproquó:
E, vigentes as novas regras de ortografia, encorajei-me a convidar-te, Maria Amélia: queira, por obséquio e paixão, um dia quem sabe da vida, degustar comigo uma linguiça? Afogar o pinguim... pinguinhos nos "is". Afogar o pinguim... Não é o que está pensando.
Na verdade, o crime foi o seguinte: raptou-se o trema do sequestro, torturou-o por alguns minutos, cinquenta talvez, e ocultou-se o seu corpo nas lápides da questão. Segredo, Maria: - mataram o trema, mas ele sobreviverá onde nunca esteve, bem na questão, e lá assombrará os exegetas da gramática lei. Os crentes do além-vida dirão diante do túmulo: - qüestão! Ó, e o fantasma assombrará. Fantasma imortal, cujo corpo nunca existiu. Qüestão! Qüestão! Qüestão! E um barulho de correntes...
Mas eu gostava de ver o trema em todo lugar. Ele era coisa romântica; um par de pontinhos... morreram juntos - falará assim alguém que tem gosto pelas tragédias: - Eram tão bonitinhos; nasceram e morreram juntos...
E a graça da língua portuguesa é a sua promiscuidade. Prefiro-a inculta e bela a ser reta.
Prefiro-a cheia de pegadinhas a ser assim, tão recatada. Ora, todo trema fazia orgia, ménage à trois com o "u", e a gente só o via de fora, sem participar, tal qual o "i" ou o "e", de voyeur. Pegadinhas? Posto que liberal, o trema era romântico, desde o nascimento. Ora, nasceram juntinhos! Morreram juntinhos! Dançaram valsa, velhinhos.
A Igreja do Diabo - final
Capítulo IV - FRANJAS E FRANJAS
A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.
Um dia. porém, longos anos depois notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogman; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá.
O manuscrito beneditino cita muitas outra descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calavrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas,
benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro.
Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu te mpo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma cousa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse:
— Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão.
— Que queres tu? É a eterna contradição humana.
domingo, 4 de janeiro de 2009
A Igreja do Diabo
Capítulo III - A BOA NOVA AOS HOMENS
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
— Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil a airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si.
E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes subtil, outras cínica e deslavada. Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu"... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal.
Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloqüência, toda a nova ordem de cousas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs. Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada.
A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, cousas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, cousas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.
E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada. pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era urna simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra cousa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo:
— Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.
sábado, 3 de janeiro de 2009
A Igreja do Diabo
Capítulo II - ENTRE DEUS E O DIABO
Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-no logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor.
— Que me queres tu? perguntou este.
— Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos.
— Explica-te.
— Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros...
— Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura.
— Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco.
Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto,com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?
— Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor,
— Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.
— Vai.
— Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra?
— Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja?
O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer cousa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:
— Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...
— Velho retórico! murmurou o Senhor.
— Olhai bem. Muitos corpos que ajoelham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, — a indiferença, ao menos,— com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, — ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em cousas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos...
Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica, Deus interrompeu o Diabo.
— Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?
— Já vos disse que não.
— Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão?
— Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega.
— Negas esta morte?
— Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los...
— Retórico e subtil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai!
Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
A Igreja do Diabo
Capítulo I - DE UMA IDÉIA MIRÍFICA
Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos.
Acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo:
— Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.